O projeto Vez e Voz foi criado com o objetivo de valorizar as mulheres que trabalham no segmento de transporte rodoviário de cargas e logística, mas não apenas isso, esse movimento também servirá para abrir espaço e começar a falar das empresas e empresários que se destacam nesse sentido. Um desses personagens importantes nesse processo é o empresário Urubatan Helou, CEO da Braspress, reconhecido pelo seu trabalho e como grande incentivador das mulheres no TRC, segundo a nossa pesquisa do SETCESP.
As pessoas são movidas por exemplos e devemos sempre os tornar públicos, como forma de reconhecimento e engajamento social para nosso movimento, assim que vamos alcançar a transformação social e cultural que pretendemos dentro do TRC.
Por isso, convidei o S.r. Urubatan para responder algumas questões a respeito deste tema e o mesmo gentilmente nos contou quando e como ele começou a contratar as mulheres motoristas na sua empresa: “Muito interessante este nosso engajamento neste processo que não ocorreu por nenhuma atitude altruísta de minha parte, pois em uma viagem em 1996 aos USA eu percebi uma mulher dirigindo um ônibus de turismo. Logo associei este fato com o nosso negócio aqui no Brasil, pois como somos uma empresa com forte presença no varejo em todo Brasil, imaginei que se tivéssemos uma tripulação feminina para entregas em Shoppings Centers poderíamos atrair luzes para nossa Braspress, e assim foi feito no 2o semestre de 1996. Por que não foi uma atitude altruísta? Porque em momento algum nem eu e muito menos meus pares jamais tivemos nenhuma visão de sub julgamento da mulher diante da sociedade, essa é uma mentalidade que jamais habitou meu lar e minha empresa, todavia com a contratação da 1a motorista mulher em 1996, houve uma bela revelação.”
E olha só o que eles perceberam rapidamente naquela mulher motorista: “....Simplesmente descobrimos que os destinatários que recebiam mercadorias por esta tripulante se sentiam protegidos pela Braspress, pois aquela figura não irradiava nenhum temor e em alguns casos ela acabou sendo cliente de algumas lojas de nossos destinatários. Melhor que isso, percebemos mais longevidade de pastilhas de freio, pneus que não traziam marcas de guias, maior longevidade de motor, câmbio e outros itens, melhor aceitação a treinamentos de direção defensiva e econômica, coisas que diferiam do comportamento masculino, que pela suas atitudes latina, jamais admitiam que não pudessem ser verdadeiros Airton Sena, além de uma higienização perfeita de cabine e veiculo como um todo.”
Simplesmente sensacional o resultado que esta profissional apresentou, possibilitando que a empresa desse oportunidade a tantas outras. Mas, como será que os motoristas homens se sentiram e reagiram com a presença da primeira motorista mulher? Ele nos contou: “Confesso que inicialmente percebemos um clima hostil para esta nossa motorista, ela de fato estava quebrando um enorme paradigma, pois onde já se viu uma mulher dirigir caminhão (isto é coisa para homem), não havia no Brasil um precedente como este. Reuni todos nossos motoristas no pátio e conversei com todos eles, que em reunião conjunta não tiveram coragem de expor o preconceito e juraram amor eterno aquela invasora. Dito e feito, aconteceu o que eu queria, o clima interno passou a ser um clima primaveril e ai percebemos que a concorrência começou a produzir seus efeitos positivos, pois aqueles mesmos motoristas começaram a cuidar da higiene interna de suas cabines, e a frequentar os cursos de capacitação que já naquela época promovíamos.”
Logo de início vemos como é fundamental a atitude tomada pelo empresário diante da situação adversa. Primeiro, digno de nota, sempre estar atento às tendências do mercado e aberto a experiências, ou seja, analisar cenários e fazer coisas que outros não fazem e segundo, observar e agir diante de um possível problema, atuando de forma preventiva, a fim de evitar conflitos desnecessários entre as pessoas.
Histórias como esta devem sempre ser contadas e lembradas, para que todos que operam em determinado negócio percebam que cada pessoa, cada empresário, cada empresa, pode ser um grande influenciador de boas atitudes e boas ações, que vão se espalhando, se incorporando e aos poucos mudando e transformando os cenários. Assim é o processo de evolução e no mundo corporativo não é diferente. Bons exemplos devem ser seguidos, melhorados e replicados, em um ciclo virtuoso de melhoria contínua, capaz de elevar o nível de qualidade do nosso segmento. Se de fato as mulheres, comprovadamente, trazem resultados operacionais positivos para as empresas de transporte com relação a condução, manutenção e atendimento ao cliente. Vamos estimular sua contratação, por que não? Basta criarmos condições de infraestrutura para tal, como fez a Braspress.
Aliás, a Braspress foi além, hoje a empresa do Sr Urubatan enraizou a contratação das mulheres em todos os níveis da organização, dando oportunidades a elas, pois, para a Companhia, o que importa, é a competência: “Portanto a partir deste ponto passamos a ter dentro de nossa cia de fato preconceito só que contra o Homem, e determinei ao nosso RH preferência absoluta pra contratação de motorista mulher, preconceito este que eu confesso que tive que lutar contra e acabei neutralizando-o com um mantra que construí:
Competência não tem sexo e isto não apenas virou um mantra pra mim como irradiou por toda a empresa. Com a evolução da Mão de obra feminina fomos também percebendo que deveríamos criar uma infraestrutura destinada a atender ambos os sexos, com a criação de vestiários e alojamentos próprios para homens e mulheres (bem separados uns dos outros) fornecimento de material de higiene e descarte deste material de forma correta, dentre outras medidas. Hoje eu te confesso que não mais incentivamos a causa feminina em nossa cia, pois entendo que o apoiamento de uma causa assim especifica isto sim é uma atitude discriminatória, portanto as coisas hoje aqui fluem dentro de uma normalidade em que nenhum preconceito tem superveniência. Eu pessoalmente não creio que existam hoje empresas que criam este preconceito, pois o exemplo gerado por nós certamente criou um legado de que não importa o sexo, e sim a competência. Todavia o fundamental não é incentivar a contratação feminina em cargos de subserviência, hoje temos muito mais mulheres que recebem salários acima de 25.000,00/mês ocupando funções de grande responsabilidade e participando ativamente do board da cia.”
Incrível como a empresa absorveu o mantra do empresário, quem conhece a Braspress sabe que essa é a pura realidade e que tal afirmativa é absolutamente verdadeira.
Por fim, como o Sr Urubatan é, além de um brilhante empresário, um líder sindical de grande destaque nacional, atuando de forma constante e árdua desde nossa Confederação Nacional, Federação do Estado de SP, Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística – NTC&Logística e no SETCESP, perguntamos ao mesmo sobre sua visão da atuação feminina nas entidades de classe: “Este é um processo que precisa ser irradiado não apenas por uma empresa como foi o nosso caso, esse tem que ser um compromisso das nossas entidades, precisamos trazer para dentro das entidades uma participação mais efetiva de empresárias e executivas, pois competência não tem sexo. Espero poder ter contribuído para que a entidade empunhe esta bandeira”.
Não só empolgante como é uma honra para mim poder contar um pouquinho desta história da Braspress, de como ocorreu a inserção das mulheres nesta empresa tão importante dentro do TRC. Que a atitude do empresário Urubatan Helou sirva de exemplo para demais empresários do nosso segmento, no sentido de não só darem oportunidade para que as mulheres ocupem qualquer função dentro de uma empresa de transporte e logística, em qualquer nível, mas que isso se torne, de fato, uma política de gestão de pessoas, que envolve respeito às necessidades humanas com relação a infraestrutura diferenciada, equidade salarial e oportunidades reais de crescimento profissional.
Para vocês terem uma ideia da magnitude do que acabamos de contar, hoje, a Braspress conta com 2434 (26,3% aproximadamente) mulheres entre os 9252 colaboradores, e 314 (27,7%) motoristas mulheres entre 1132 motoristas no total.
Meus sinceros agradecimentos ao Urubatan Helou pela contribuição neste artigo, reforço minha admiração pela pessoa e pela brilhante empresa empenhada e carinhosamente cuidada por ele diariamente, quem o conhece sabe o que estou dizendo. É um prazer tê-lo como par nas mesas de trabalho das nossas entidades, cujos aprendizados procuro absorver humildemente, anotando cada palavra nova que ele pronuncia (sempre tem uma que eu nunca ouvi). Espero que eu e as inúmeras empresárias que hoje frequentam nossas entidades possam contar com sua franqueza e experiência por muitos anos.
Que esta seja somente a primeira de muitas histórias inspiradoras que eu começo a contar aqui para vocês.
Junte-se a nós e conheça nosso movimento:www.vezevoz.org
Ana Jarrouge, Presidente Executiva da SETCESP
Opmerkingen