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Os desafios da qualificação no Brasil e o que podemos fazer para mudar este cenário


Não é nenhuma novidade para o mundo empresarial que o Brasil tem índice baixíssimo de produtividade. Isso acontece por diversos motivos, que vão desde entraves na legislação trabalhista, questões burocráticas devido excesso de regulamentações e pouca fiscalização, até problemas de formação, preparação e qualificação da nossa mão de obra.


Infelizmente é um grande desafio para todo empresário, cuja solução parece transcender ações que estão ao seu alcance.


Falando em produtividade vale a pena conferir e acompanhar as publicações no site do Instituto Brasileiro de Economia – IBRE da FGV, que estuda a fundo este tema tão relevante. Segundo o artigo chamado Produtividade do trabalho: o motor do crescimento econômico de longo prazo, cujos atores são Fernando Veloso, Silvia Matos e Paulo Peruchetti. “Uma das motivações para o aprofundamento de estudos relacionados ao tema é a perda de dinamismo da economia brasileira ao longo dos últimos anos, intensificada pela forte recessão pela qual o país passou entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2016, uma das mais longas e profundas da história. Além disso, a recuperação da economia tem sido muito lenta, com crescimento do PIB de 1,3% em 2017 e 2018 e de 1,1% em 2019.


Como revelam os indicadores do IBRE de produtividade trimestral, disponíveis no Observatório da Produtividade Regis Bonelli, a lenta recuperação do crescimento desde o fim da recessão pode estar associada ao desempenho negativo da produtividade do trabalho, que ficou estagnada em 2018 e teve queda no ano de 2019.”


Sabemos que a formação em nosso país está cada dia pior, alunos estão chegando às universidades sem preparo e isso têm se agravado há alguns anos, devido a estratégias governamentais equivocadas a nosso ver.


Fato é que, investe-se pouco na educação de base, deixando um limbo educacional nos alunos que chegam ao ensino superior. Nosso sistema público, não tem capacidade de absorção, deixando boa parte dos alunos à mercê do sistema privado, cheio de situações que nos deixam preocupados, devido à baixa qualidade do ensino, decorrente muitas vezes da finalidade lucrativa delas, o que pode influenciar nas estratégias e qualidade dos cursos ofertados.


Segundo dados da ABRES – Associação Brasileira de Estágios, apenas 36,68% dos calouros “pegam o diploma”, sendo 259.302 no setor público e 1.004.986 no privado.

Ainda, há que se considerar que, por não terem um ensino de qualidade na base, os alunos de baixa renda que chegam ao ensino superior, conseguem apenas faculdades com menor nível, além é claro de obterem enorme dificuldade para pagar as mensalidades. “Grande parte desses estudantes não conclui ou abandona o curso provavelmente por falta de condições financeiras”, conforme levantamento da ABRES.


Aliado a isso, temos o fato incontestável de que o ensino superior pouco tem se transformado no decorrer dos anos, já que se apegam a dogmas e teorias e pouco se atentam à realidade atual, deixando de “capacitar” os estudantes que irão adentrar no mercado de trabalho.


Ou seja, temos um “lote” enorme de alunos que hoje chegam às universidades com preparo abaixo do esperado, devido à baixa qualidade e falta de investimento em ensino básico; com capacidade de aprendizado insuficiente e poder de absorção muito baixo.

E isso, obviamente influencia diretamente na produtividade das empresas, visto que elas estão absorvendo mão de obra cuja formação é muito insuficiente em comparação com outros países, deixando o Brasil cada vez mais longe de conquistar posições no IDH.


De acordo com relatório divulgado em dezembro de 2020 pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (Pnud), da Organização das Nações Unidas, o Brasil perdeu cinco posições no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e passou do 79º para o 84º lugar entre 189 países.


Além disso, devido a pandemia, temos o agravante das aulas remotas, cuja qualidade é sem dúvida mais baixa do que aulas presenciais quando falamos em cursos de longa duração. Segundo fonte do Inep/MEC 2018, em 2006 tínhamos 207.200 alunos matriculados no sistema de ensino superior via EAD. Em 2018 esse número saltou para 2.056.511 alunos matriculados.


Além disso, estamos diante de uma revolução tecnológica, cuja velocidade está ainda aquém da nossa compreensão, se não tomarmos ações rápidas, a baixa capacitação e qualificação será um grande impeditivo para que essas e as próximas gerações entrem no mercado de trabalho. Ainda, temos que ter em mente que os postos de trabalho que verdadeiramente serão substituídos por máquinas e robôs, serão aqueles cujas atividades tenham rotina e não exigem função cognitiva. Do contrário, se investirmos em educação de excelência, preparando as pessoas para carreiras que exijam alta função cognitiva e não tenham rotina, estas terão lugar certo do mercado de trabalho.


Há que se desenhar novos programas para educação de base e para as universidades, com foco em profissões não rotineiras e que tenham alto poder cognitivo. Este é o caminho.

Devemos sim fazer nossa parte como empresários, seja da indústria, comércio ou do setor de serviços, no sentido de fazer parcerias com as universidades, com intuito de melhorar a qualidade do ensino. E também por isso, as entidades são uma das formas extremamente eficazes de organização da sociedade, para que as demandas cheguem a quem de direito.


Por fim, ressalto aqui com muito orgulho os resultados do sistema S do setor transporte de cargas, que através do SEST SENAT tem contribuído com excelência para qualificação profissional da nossa mão de obra, além de cuidar da saúde e bem-estar dos nossos profissionais. Se você não conhece, está perdendo uma grande oportunidade de capacitar e qualificar seus colaboradores, acesse www.sestsenat.org.br e veja tudo que tem a sua disposição.


O desafio é enorme e fica aqui a reflexão do quanto queremos e devemos nos envolver com este assunto, que atinge a todos. Nossa sugestão é colocar este assunto na pauta, seja na sua empresa, na sua entidade ou na sua associação, porque a responsabilidade é, sem dúvida, de todos nós.


Ana Jarrouge, Presidente Executiva do SETCESP


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