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Tecnologia no TRC: será mesmo que estamos inovando?



Ao olharmos as dimensões do Brasil, percebemos que interagimos com diferentes culturas, de modo que a linguagem e a maneira de trabalhar também mudam em cada localidade. Existe um desafio muito grande em empresas que conquistam um Brasil grande assim, com pessoas passando frio no Sul e calor no Norte, consumindo de maneiras distintas no litoral em relação ao interior. Quando começamos a olhar detalhadamente qualquer item, com a profundidade que a situação merece, é fácil chegar à conclusão de que há algo a ser melhorado.


Quanto falamos de inovação, às vezes pensamos em algo disruptivo, como carros voadores ou drones realizando entregas. Mas a realidade que nos cerca é diferente, nós andamos na velocidade que o mercado permite. Não é à toa que um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que 83% das empresas afirmam precisar de mais inovação para crescer ou sobreviver no mundo pós-pandemia.


Ao olhar tudo que nos permeia no setor de transporte, em geral temos um veículo que parece ter evoluído, mas usa um motor diesel de mais de 50 anos. As mudanças foram alguns sensores e incrementos que tornaram nossa vida mais prática e fácil, no entanto o caminhão ainda precisa ir à oficina, trocar óleo e fazer manutenção, por exemplo. Quando pensamos no pneu, mudamos também pouco, ainda usamos ar, mas trocamos a borracha da seringueira pela sintética, adicionamos alguns componentes químicos. Porém temos que lidar com algum furo quando um parafuso enrosca no pneu, como faziam nossos avós na mesma situação.


Entendo a realidade de forma grosseira, houve realmente pouca relevância disruptiva, agora incremental tivemos muitas transformações, como telemetria, rastreamento, sensores e dados em uma série de fatores. A questão é, o que nós estamos fazendo com isso? Iremos levar os mesmos 50 anos só pensando em sensores melhores e práticas incrementais?


A verdade é que nós temos pouco recurso e só é possível inovar com lucro. Se os transportadores tivessem margem de lucro maior, certamente estariam utilizando melhores os recursos disponíveis, utilizando mais tempo para analisar os dados da frota e aperfeiçoar a operação e tendo ainda mais lucratividade. Assim, melhorando a vida do motorista, do analista de logística, do coordenador e do setor, com veículos com melhor desempenho, mais seguros e seguindo essa jornada positiva.


No entanto, nós temos que ser exprimidos pelo mercado diariamente. Insumos subindo, frete estável, motorista com dificuldades, jornadas duras de espera em porta de cliente, porta de mercado, veículo parado e remuneração incompatível com valores de veículos, pneus, peças e acessórios. E assim começamos a magia da redução de custos, que por ser muito agressiva acaba excluindo também a inovação, a melhoria contínua, o colaborador que ficaria ali no departamento que quase nenhuma transportadora tem: a P&D (Pesquisa e Desenvolvimento).


Teremos inovação quando as transportadoras realmente se aprofundarem um pouco a mais, já temos maturidade, mas não temos um fator primordial para que isso aconteça: o recurso. A falta do lucro extingue a inovação, reduz a criatividade e faz com que o trabalho fique mais pesado para todos. Ainda temos muito o que inovar em todos os itens do veículo que representam custo, como os pneus. Contudo, nos vemos limitados no cenário atual do segmento.


O que podemos depreender disso é que as inovações normalmente ocorrem onde há recursos disponíveis, principalmente se observarmos grandes empresas que em seu início tiveram grandes prejuízos, como Uber e Airbnb. Por isso, quando há excesso de dinheiro, é muito mais provável que ideias disruptivas surjam deste meio.


Eduardo Ghelere, Diretor Executivo da Ghelere Transportes

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